Os gliomas são um grupo de tumores cerebrais que originam-se das células gliais, que desempenham funções de suporte e proteção dos neurônios no sistema nervoso central. Reconhecer os sintomas, obter um diagnóstico preciso e escolher o tratamento adequado são etapas cruciais para o manejo eficaz dessa condição. Neste artigo, exploraremos os diferentes aspectos dos gliomas, desde a manifestação dos sintomas até as opções terapêuticas disponíveis, proporcionando uma visão abrangente para pacientes e seus familiares.
O que são Gliomas?
Gliomas são tumores que se formam a partir das células gliais no cérebro e na medula espinhal. Essas células são essenciais para o funcionamento do sistema nervoso, oferecendo suporte estrutural e funcional aos neurônios. Existem vários tipos de gliomas, classificados de acordo com o tipo de célula glial de onde se originam, incluindo astrocitomas, oligodendrogliomas e ependimomas. A classificação também se baseia no grau de malignidade, variando de baixo grau (graus I e II) a alto grau (graus III e IV), com os glioblastomas sendo os mais agressivos.
De forma sucinta podemos afirmar que são tumores do sistema nervoso central, classificados em quatro graus. Entretanto, essa divisão é simplificada, já que avanços na biologia molecular e genética permitem uma classificação mais detalhada.
Os gliomas de baixo grau são geralmente benignos, enquanto os de alto grau são malignos. O tipo mais comum é o astrocitoma, que pode variar conforme a idade, sendo os mais benignos mais frequentes em crianças e os mais agressivos em adultos. O glioblastoma, um astrocitoma de grau IV, é altamente agressivo, requerendo cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Por outro lado, existem gliomas menos agressivos, com crescimento lento ou que podem não crescer. Às vezes, são descobertos acidentalmente em exames de imagem feitos por outros motivos. Nessas situações, pode-se optar por observação, biópsia ou remoção cirúrgica, dependendo dos sintomas e do quadro clínico do paciente.
Quando há sintomas como crises convulsivas, a intervenção é necessária para diagnóstico e tratamento. Cada tipo de glioma possui um comportamento e um tratamento específico, exigindo abordagens personalizadas para cada paciente.
Sintomas Comuns dos Gliomas
Resumo sobre Sintomas de Gliomas:
Os sintomas dos gliomas variam de acordo com a localização do tumor no cérebro. Os mais graves incluem convulsões, perda de força em um lado do corpo, alterações na fala, comportamento e visão. Diferentemente de outros tumores como meningiomas e schwannomas, que crescem fora do tecido cerebral, os gliomas crescem dentro do cérebro, entre o tecido cerebral normal, tornando a cirurgia mais desafiadora e seus sintomas mais proeminentes. Dentre alguns dos sintomas podemos citar:
- Dores de cabeça persistentes
- Convulsões
- Náuseas e vômitos
- Alterações na visão ou fala
- Dificuldade de equilíbrio e coordenação
- Fraqueza ou paralisia em partes do corpo
- Mudanças na personalidade ou comportamento
Métodos de Diagnóstico
O diagnóstico de gliomas envolve várias etapas e exames:
- Avaliação Clínica: Um exame neurológico completo para verificar reflexos, força muscular, coordenação e funções sensoriais.
- Imagens Cerebrais: A ressonância magnética (RM) é a ferramenta principal para identificar a localização, o tamanho e as características do tumor. A tomografia computadorizada (TC) também pode ser utilizada.
- Biópsia Cerebral: Em alguns casos, é necessária a coleta de uma amostra do tecido tumoral para análise laboratorial e confirmação do tipo e grau do glioma.
- Testes Neurológicos: Avaliações adicionais podem incluir exames de função cognitiva e neuropsicológica para determinar o impacto do tumor nas funções cerebrais.
Opções de Tratamento
O tratamento dos gliomas é multidisciplinar e pode incluir várias abordagens. A ressecção cirúrgica é frequentemente o primeiro passo, visando remover o máximo possível do tumor.
Radioterapia é utilizada para destruir células tumorais remanescentes e reduzir a possibilidade de recorrência. Medicamentos específicos são administrados na quimioterapia para combater as células cancerígenas.
Terapias alvo e imunoterapia são tratamentos mais recentes que visam características específicas das células tumorais.
Além disso, cuidados paliativos são focados no alívio dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida do paciente.
Cirurgia
Antes de qualquer cirurgia, especialmente em neurocirurgia, realizamos um planejamento meticuloso. Estudamos os exames várias vezes e ensaiamos mentalmente cada passo da cirurgia para antecipar e solucionar possíveis complicações. Ao contrário de uma cirurgia de emergência, o planejamento permite uma avaliação cuidadosa e a utilização de diversas ferramentas tecnológicas.
Atualmente, usamos técnicas avançadas, como realidade virtual e impressoras 3D, para simular a doença e planejar a intervenção. A impressão 3D pode replicar aneurismas ou tumores, permitindo que visualizemos detalhes cruciais, como a localização de artérias.
Outra tecnologia vital é o neuronavegador, que funciona como um “GPS do cérebro”. Alimentamos o computador com imagens de ressonância do paciente e usamos pontos de referência no rosto para mapear o cérebro com precisão. Durante a cirurgia, o neuronavegador nos ajuda a localizar o tumor e evitar estruturas importantes, aumentando a segurança e a eficácia do procedimento.
Quando um glioma está localizado próximo à área da linguagem, usamos a técnica de cirurgia com o paciente acordado. Essa abordagem permite mapear as funções da fala, pois não é possível monitorizá-las com o paciente sob anestesia, diferente da área motora. Durante a cirurgia, o paciente realiza testes neuropsicológicos, como identificar objetos, permitindo ao neurocirurgião determinar quais áreas estão relacionadas à fala e devem ser preservadas.
Essa cirurgia é multidisciplinar, envolvendo neuropsicólogos, fonoaudiólogos e anestesistas especializados. É um procedimento complexo e mais demorado, com testes contínuos durante a operação. O paciente pode ser acordado desde o início ou apenas na fase de remoção do tumor. A recuperação pós-operatória geralmente inclui um dia na UTI e um ou dois dias no quarto, variando conforme o tamanho e a localização do tumor.
A preparação e a escolha do paciente são cruciais. Pacientes ansiosos ou com condições que impedem a colaboração contínua não são indicados para essa técnica. Uma equipe experiente e uma avaliação criteriosa são essenciais para o sucesso da cirurgia.
Prognóstico e Qualidade de Vida
O prognóstico para pacientes com gliomas varia conforme o tipo e o grau do tumor, além da idade e do estado geral de saúde do paciente.
Tratamentos agressivos e avanços na medicina têm melhorado significativamente as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida. É fundamental um acompanhamento contínuo e multidisciplinar para gerir os efeitos colaterais do tratamento e apoiar a recuperação do paciente.
Conclusão
Entender os gliomas é fundamental para o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz. Desde os primeiros sintomas até as opções de tratamento, cada etapa exige atenção cuidadosa e suporte especializado. Através de uma abordagem integrada, é possível melhorar significativamente o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes.
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Dr. Marcio Rassi é Neurocirurgião e Professor de Neurocirurgia, especialista no tratamento de tumores cerebrais e da base do crânio. Nosso consultório está localizado na Av. Brig. Faria Lima, 2413; São Paulo.